Sofia Miguel Rosa (Edição 2364 do semanário Expresso, 17 fevereiro 2018) |
Reparemos os dados da infografia da autoria de Sofia Miguel Rosa. De 2015 para 2050, isto é, ao longo de 35 anos, prevêem-se decréscimos populacionais na Europa, no Japão, na Rússia e na China, áreas geográficas localizadas no hemisfério Norte, grosso modo, no chamado mundo desenvolvido, industrializado e rico. No resto do mundo, coincidindo grosseiramente com o Sul, em vias de desenvolvimento, pouco industrializado e pobre, os acréscimos marcarão, de forma significativa, África, Índia, América Latina e, de modo menos expressivo, a América do Norte (recordemos que, por força dos numerosos contingentes de imigrantes não espanta o dinamismo demográfico deste continente do hemisfério Norte).
Em face destes desequilíbrios, o "suicídio europeu" exige soluções para poder ser evitado. Uma vez que as propostas natalinas adotadas nalguns países não conseguem reverter as baixas taxas de natalidade e a fraquíssima fecundidade, os fluxos imigratórios parecem ser uma das vias mais imediatas para alterar a incapacidade de renovação de gerações.
Numa perspetiva de lógica pura, a chegada de imigrantes deveria ser uma realidade acolhida de bom grado pelos europeus.Mas, o que nos transmitem os meios de comunicação é que, pelo contrário, são diversas as reações perante as vagas de imigrantes e, na maioria, de desagrado e de medo.
Este tema foi inspirado no estudo realizado por dois investigadores da Fondation Robert Schuman, Michel Godet e Jean-Michel Boussemart - Europa 2050: este suicídio que ninguém parece poder parar - e cuja divulgação data do dia 12 de fevereiro de 2018 na página eletrónica da Fundação: Question d´Éurope nº 462 (pode ser lido em francês e em inglês). Numa nota de apresentação do artigo podemos ler:
Europa 2050: suicídio demográfico (12/02/2018)
Portugal, segundo as autoras do Expresso, o problema é demasiado penalizador: Somos o 5º país mais envelhecido do mundo; o 8º país com menor índice de fecundidade; um país marcado por forte surto emigratório; um país que, nas próximas três décadas, perderá 1,1 milhões de habitantes. Mais, por força da perda de ativos na Alemanha, este país irá atrair trabalhadores qualificados dos países periféricos (Portugal, Espanha, Sul de Itália, Bulgária, Roménia e algumas zonas polacas) agravando p problema emigratório. Sucederá, provavelmente, que grandes cidades como Lisboa, Madrid ou Barcelona assemelhar-se-ão a espécies de ilhas de gente no meio de grandes áreas despovoadas e envelhecidas. Perante tal cenário, defendem que é necessário organizar uma verdadeira política europeia migratória.
Em 2050, a Europa poderá estagnar à volta de 500 milhões de habitantes e perder 49 milhões de pessoas em idade de trabalhar no estrato dos 20-64 anos. Serão precisos braços e cérebros para compensar estas perdas de ativos. Ao mesmo tempo, a população de África deve aumentar 1,3 milhares. Quer dizer que a pressão migratória sobre a Europa será mais forte que nunca. Deste choque demográfico (implosão interna e explosão externa), a Europa não fala nem se prepara para ele. O suicídio demográfico da velha Europa está anunciado mas ainda há tempo para o combater: a boa previsão não é forçosamente a que se realiza mas a que conduz à ação para evitá-la.
Das conclusões a que chegaram os autores do estudo salienta-se a que relaciona o impacto da demografia na economia. Segundo verificaram, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) é mais baixo nos países onde o aumento da população é menor. Por exemplo, até 2040 prevê-se que o potencial do crescimento económico da Europa diminuirá para metade por força do envelhecimento populacional. Aliás, desde o início dos anos 80 do século passado, Europa, Japão e EUA, os três polos da Tríade, têm verificado uma desaceleração do crescimento económico e da produtividade, apesar dos avanços tecnológicos.