sábado, 28 de janeiro de 2017

Smartphones: como não pagar o trabalho ao preço justo

Cécile Marin, junho de 2015
A propósito do preço de venda de um dos modelos do iPhone da Apple, Cécile Marin assina um trabalho jornalístico "Várias voltas ao mundo antes de deslizar no seu bolso" publicado, em junho de 2015, no jornal francês Le Monde Diplomatique. Analisando as diferentes fases entre a conceção do modelo e a sua chegada ao mercado consumidor, a autora concluiu que a empresa consegue uma margem bruta de pelo menos 69%.
Este é o resultado das vantagens da divisão internacional do trabalho potencializada pela globalização. A existência de matérias primas muito localizadas e as discrepâncias entre os países e o seu grau de capacidade de conhecimento e realização científica e tecnológica são factores que contribuem para a forte especialização do trabalho.
Num contexto de agilidade nas deslocações dos recursos entre quem os produz e quem os usa e transforma, são frequentes os casos de remunerações injustas que não dignificam o desempenho de quem trabalha. De igual modo, choca a persistência da venda de produtos em que não se verifica um pagamento por um preço justo. Apesar da interdependência entre os negociadores, sejam países, regiões ou empresas, a relação entre as partes é mais favorável a quem tem o poder de impor decisões. O lado mais forte da negociação é aquele que mais lucra com o negócio.
No mapa verificámos que, depois da conceção do modelo nos EUA (Silicon Valley), a extração das matérias primas e sua transformação situam-se em países como Chile, Brasil, República Democrática do Congo, Zâmbia, Malásia, Austrália e Nova Caledónia. Entretanto, os principais componentes são fabricados nos EUA, em Singapura, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Itália e Alemanha. O processo de montagem localiza-se na China e, daqui, os aparelhos vão para França para a distribuição nos mercados consumidores. Assim se justifica o título do artigo e do planisfério. As "Várias voltas ao Mundo ..." são o resultado da evolução dos transportes e das comunicações e são um retrato da crescente interdependência mundial entre mundo desenvolvido e mundo em desenvolvimento, entre países do Norte e países do Sul, entre o mundo que domina o conhecimento e o mundo ainda arreigado às tradições e pouco evoluído.

 

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