segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A periferia é opção forçada para quem se vê expulso pelo preço das casas.

Na edição de 11 de agosto de 2018, do semanário Expresso, podemos ver esta infografia dedicada à mobilidade na Área Metropolitana do Porto e a sua relação com o preço das rendas de casa. Com uma metodologia assente na simulação de arrendamento para uma habitação com 100 m2 em cada uma das freguesias da cidade do Porto, onde está localizada uma estação de metro, o estudo do INE identifica as áreas de maior renda e as de valor mais compatível para quem não dispõe de capacidade económica capaz de responder aos preços especulativos das freguesias mais centrais. E, tal como já sabemos, a centralidade não é geométrica (caso das estações de S. Bento e Trindade). Fatores como proximidade do mar, estabelecimentos de ensino e hospitais centrais, podem justificar custos de renda tão altos quanto os do centro histórico "gentrificado". O boom turístico a que vimos a assistir nas principais cidades do país tem proporcionado:
  • uma grande pressão na procura de alojamento exercida pelo aumento do volume de turistas
  • o disparar dos preços da habitação
  • uma escassa oferta de andares para arrendamento em relação à procura 
  • um deslocamento forçado dos moradores tradicionais para a periferia
  • um aumento dos engarrafamentos diários de trânsito nos principais acessos às cidades
  • um aumento do número de veículos particulares com as consequências normais, mais poluição, agravamento das distâncias-tempo e das distâncias-custo, mais gastos, tanto públicos como privados.
A rede de metro do Porto, para quem a ela tem acesso, origina situações de valorização do espaço que refletem as caraterísticas dos lugares e as ofertas funcionais que disponibilizam a quem vive, ou pretende morar, na AMP . Por exemplo, a área do Hospital de S. João, um dos hospitais centrais, com, nas suas imediações, a Faculdade de Medicina, do Instituto Português de Oncologia (IPO), as Faculdades de Economia, Farmácia e Engenharia, os Institutos Politécnico do Porto e Superior de Engenharia, a Faculdade de Motricidade Humana, o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, e outras estruturas, suscita uma grande apetência sobretudo por jovens universitários e investigadores, pelo que, os preços da oferta de habitação, assemelham-se aos praticados na Baixa da cidade. Outro exemplo interessante prende-se com os preços na área da Casa da Música situada numa das áreas valorizadas da cidade, a Rotunda da Boavista. Aqui, os preços do imobiliário são, também, dos mais elevados. Aqueles a quem a disponibilidade para arrendar casa não se adequa a valores tão altos, a solução é, mesmo, a periferia.
É, sem dúvida, agradável deixarmos de assistir à degradação física do edificado das nossas cidades. É, com satisfação, que olhámos para o renascer de edifícios cuja bela traça estava, antes, ofuscada pelo abandono. Todavia, sem moradores permanentes que deêm vida a esses espaços e animem as ruas, o comércio local ou, até, pequenas indústrias compatíveis com o espaço urbano talvez estejamos a contribuir para, num futuro não muito longínquo, um novo ciclo de centrifugação urbana.
 

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